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domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sei..Entendo que a aurora não é mais a mesma.

Há que saudades que tenho, não da aurora da minha vida, pois ainda encontro-me nela, rs. Tenho saudade de um tempo, àquele tempo, que ouço minha mãe falar todos os dias. O tempo de quando eu não era parte integrante do mesmo, sabe, tenho saudade sim do que não vivi. Você me pergunta: Como alguém pode sentir saudade do tempo que não viveu, dos ares, do perfume que não sentiu? Mas, de fato eu sinto sim, tenho vontade de viver no campo, não neste campo industrializado e mercantilizado de hoje, mas, no campo singelo e provinciano do tempo em que minha mãe foi criança, no tempo em que minha avó foi menina, que corria nas pastagens, tomava banho de rio, bebia água de rio sem medo, no tempo em que o dia corria no ritmo natural, no tempo em que a vida tinha uma leitura e uma configuração toda particular, sei que hoje em dia a vida de minha avó e de minha mãe no respectivo tempo em que eram meninas saltitantes pelos vales e milharais não é viável, não cabe na labuta e nas exigências de hoje, mas sei que sinto falta de tudo isso, pois de tanto ouvir as lembranças nostálgicas de minha mãe criou-se em mim uma dimensão totalmente diferente da que posso alcançar. Só pelo simples motivo de viver a cinco décadas de distância da minha mãe.
Ela é do tempo em que as comitivas de peões passavam enxotando o gado e esfarelando os corações das jovens donzelas que os viam de suas janelas e que acenavam um lenço branco. Imagino quantos sonhos apaixonados e quantos suspiros ficaram nas sacadas como dialeto de um povo que sabia como saborear a vida. E quando a noite chegava, para revigorar as forças tinha as ladainhas, as danças no terreiro grande de quintal, os olhares virginais à procura de um senhor que os aquietassem. E tudo era música e expressão de vida.

Um comentário:

  1. acho incrível essa sua capacidade de análise da realidade, vc tem vocação para comentarista, deveria seguir a carreira de comunicação!!!

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